Menina Marina
'...Leva na brincadeira, Não me leve a mal, Nem tudo é de primeira, Nem tudo é banal .
Menina Marina
' Senhor eu nunca mais serei a mesma , pois o teu amor me libertou . ande comigo Deus até mesmo em palavras . '
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Que você siga decifrando cada uma das minhas pequenas transformações, como mágica. Que continue a ler em braile a invisibilidade das minhas aflições. Que queira me fazer feliz, não para mostar aos outros o quão feliz é quem está ao seu lado, mas que o faça pelo prazer em me ver sorrir.
Encantadoramente espontâneo.
Que continuemos a completar frases um do outro. Que consigamos desvendar intenções alheias em um só olhar, para que possamos nos proteger de qualquer forma não sincera de aproximação. Que saibamos o quão especial somos como indivíduos e o quanto isso nos torna uma conjunção escrita em caixa alta.
Que eu saiba que um dia, dentro de um humilde embrulho, você queira me dar o mundo.
Que meu olhar percorra cada parte do teu corpo e que leve consigo a suavidade do meu toque. Que eu descubra, conheça e decore-o em sua completa peculiaridade, para que – se longe – eu possa acessar sua anatomia em meus arquivos de memória afim de minimizar a angústia da saudade.
Foram muitas as pessoas que passaram pela minha vida. Muitas também foram as que deixaram sua marca, tenha sido ela boa, ou ruim – ou ambas.
Não costumo sentir remorso ao cortar laços quando enxergo neles algum tipo de nó. Incomoda-me o fato de me sentir presa a alguém. Incomoda-me saber que faço o outro sentir-se acorrentado à mim. Relações são escolhas, são trocas voluntárias de afeições, são uma construção consensual. Mais do que tudo, são demonstrações cotidianas e espontâneas da importância que o outro exerce em quem você é e em quem pretende ser.
Quando não mais existe a genuína vontade de provocar crescimento, ou quando se é indiferente ao motivo daquele largo sorriso, perde-se o propósito. Você caminha em círculos, tropeçando sempre naquele mesmo pedregulho. Estupidamente tenta não ver o que é que o torna tão errante.
É difícil perceber.
Desata o nó.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Sinto e não sei o que é. Sei que minhas mãos ficam trêmulas, tentando apalpar minhas idéias. Resgato qualquer lembrança tosca, tentando juntar esse monte de peças. Não se encaixam. Tento novamente.
Meu coração dispara me pedindo mais. Olho para todos os lados e não encontro nenhuma porta. Pulo a janela. E que caminho seguirei? Confusão de pensamentos com sentimentos. Discutem, querem guerra. Estou no meio, sem ousar dizer uma palavra.
A culpa é de quem?
Quem será o responsável por toda essa disputa? Não tenho respostas.
Só encontro agora um vazio, uma doença chamada tédio. Meus pés não caminham, não respondem aos meus comandos. Simplesmente cruzam-se.
Cãibra.
“Que seus dias sejam muitos, longos e plenos de satisfação!
Que eles sejam acompanhados de amigos, desses que afofam as nuvens pra gente e pintam de azul o céu mais cinza, que borrifam orvalho nas flores e ensaiam com os pássaros as melodias mais lindas só pra fazer a gente sorrir.
Em dias assim, que vc descubra a sabedoria de viver cada momento sem a pressa do amanhã nem o arrependimento do ontem, bastando provar o sabor da alegria de ver o tempo passar hora a hora…”
Carlos Castro
terça-feira, 11 de outubro de 2011
“Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências…
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer…
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam – ou talvez nunca vão saber – que são meus amigos.”
Vinicius de Moraes
“Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais.”
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais.”
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Preciso suplantar essa idéia de que tu és apenas uma pessoa distante a mim. Uma outra pessoa, a qual eu me prendi sem ao menos saber se vale a pena depositar meus sentimentos mais nobres, e que nunca vais saber que eu fiz isso. É como desperdiçar vida, mas ao mesmo tempo não. É um assunto delicado, complicado e muitas vezes triste. Por enquanto ainda és meu vício, um vício o qual eu luto para perder, ou apenas para continuar mantendo ele saudável . Tenho medo de não conseguir, muito mas muito medo. Quero fugir do mundo para não ter que ver as coisas sobre ti, para parar com essa armazenagem de endorfina, que meu organismo retém para quando te encontrar, mas precisa ser logo, senão ele irá entrar super dosagem. E eu morrerei por dentro com overdose de dor e sentimentos escondidos, e você nem saberá.
E serei uma vitima eterna do seu platonismo.
Sou humana, tenho fraquezas, e tu acertou em cheio nelas. Querendo ou não, tu levou um pedaço de mim. O pedaço bom.
O resto? É resto. Não sou uma fênix que renasce das cinzas, já disse, sou humana. Sou como uma estrela do mar, preciso de no mínimo metade de mim, pra me regenar. E tu levou mais do que a minha metade, tu me levou de espírito.
Eu me achava decente sozinha e achava que não podia ser melhor, mas contigo, eu me provei o contrário, contigo eu melhorei muito, virei uma pessoa extremamente feliz e tudo mais. Era como se tu me completasse.
Mas agora tu foi embora e me deixou normal, vazia.
Uma vez que tu atinge o ápice, é traumático voltar a medíocridade, entende?
Eu preciso de ti pra ser eu mesma, mesmo tu me causando certas inquietações.
Quero tua caveira, admito. Mas antes de tudo, te quero aqui comigo de novo.
Na Terra do Coração;
Nave, ninho, poço, mata, luz, abismo, plástico, metal, espinho, gota, pedra, lata.
Passei o dia pensando – coração meu, meu coração. Pensei e pensei tanto que deixou de significar uma forma, um órgão, uma coisa. Ficou só som-cor, ação – repetido, invertido – ação, cor – sem sentido – couro, ação e não. Quis vê-lo, escapava. Batia e rebatia, escondido no peito. Então fechei os olhos, viajei. E, como quem gira um caleidoscópio, vi:
Meu coração é um sapa rajado, viscoso e cansado, à espera do beijo prometido capaz de transformá-lo em príncipe.
Meu coração é um álbum de retratos tão antigos que suas faces mal se adivinham. Roídas de traças, amareladas de tempo, faces desfeitas, imóveis, cristalizadas em poses rígidas para o fotógrafo invisível. Este apertava os olhos quando sorria. Aquela tinha um jeito peculiar de inclinar a cabeça. Eu viro as folhas, o pó resta nos dedos, o vento sopra.
Meu coração é o mendigo mais faminto da rua mais miserável.
Meu coração é um ideograma desenhado a tinta lavável em papel de seda onde caiu uma gota d’água. Olhado assim, de cima, pode ser Wu Wang, a Inocência. Mas tão manchado que talvez seja Ming I, o Obscurecimento da Luz. Ou qualquer um, ou qualquer outro: indecifrável.
Meu coração não tem forma, apenas som. Um noturno de Chopin (será o número 5?) em que Jim Morrison colocou uma letra falando em morte, desejo e desamparo, gravado por uma banda punk. Couro negro, prego e piano.
Meu coração é um bordel gótico em cujos quartos prostituem-se ninfetas decaídas, cafetões sensuais, deusas lésbicas, anões tarados, michês baratos, centauros gays e virgens loucas de todos os sexos.
Meu coração é um traço seco. Vertical, pós-moderno, coloridíssimo de neon, gravado em fundo preto. Puro artifício, definitivo.
Meu coração é um entardecer de verão, numa cidadezinha à beira-mar. A brisa sopra, saiu a primeira estrela. Há moças nas janelas, rapazes pela praça, tules violetas sobre os montes onde o sol se pôs. A lua cheia brotou do mar. Os apaixonados suspiram. E se apaixonam ainda mais.
Meu coração é um anjo de pedra com a asa quebrada.
Meu coração é um bar de uma única mesa, debruçado sobre a qual um único bêbado bebe um único copo de bourbon, contemplado por um único garçom. Ao fundo, Tom Waits geme um único verso arranhado. Rouco, louco.
Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores e saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.
Meu coração é uma sala inglesa com paredes cobertas por papel de florzinhas miúdas. Lareira acesa, poltronas fundas e macias, quadros com gramados verdes e casas pacíficas cobertas de hera. Sobre a renda branca da toalha de mesa, o chá repousa em porcelana da China. No livro aberto ao lado, alguém sublimou um verso de Sylvia Plath: “I’m too pure for you or anyone”. Não há ninguém nessa sala de janelas fechadas.
Meu coração é um filme noir, projetado num cinema de quinta categoria. A platéia joga pipoca na tela e vaia a história cheia de clichês.
Meu coração é um deserto nuclear, varrido por ventos radioativos.
Meu coração é um cálice de cristal puríssimo, transbordante de licor de strega. Flambado, dourado. Pode-se ter visões, anunciações, pressentimentos; ver rostos e paisagens dançando nessa chama azul de ouro.
Meu coração é o laboratório de um cientista louco varrido, criando sem parar Frankensteins monstruosos que sempre acabam por destruir tudo.
Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.
Meu coração é uma velha carpideira portuguesa, coberta de preto, cantando um fado lento e cheio de gemidos – Ai de mim! Ai, ai de mim!
Meu coração é um poço de mel, no centro de um jardim encantado, alimentando beija-flores que, depois de prová-lo, transformam-se magicamente em cavalos brancos alados que voam para longe, em direção à estrela Vega. Levam junto quem me ama, me levam junto também.
Faquir involuntário, cascata de champanha, púrpura rosa de Cairo, sapato de sola furada, verso de Mário Quintana, vitrina vazia, navalha afiada, figo maduro, papel crepom, cão uivando para a lua, ruína, simulacro, varinha de incenso. Acesa, aceso – vasto, vivo: meu coração teu.
Caio Fernando de Abreu.
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