Menina Marina

' Senhor eu nunca mais serei a mesma , pois o teu amor me libertou . ande comigo Deus até mesmo em palavras . '

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Lie



Desculpem, mas é mentira. Se alguém disse que o amor vai bater na sua porta, é mentira. Irão bater cobradores, carteiros entregadores, jornaleiros, pedintes, vendedores, panfleteiros, visitantes, andarilhos, perdidos, desocupados, catequistas. O amor não. Ele não bate na porta, quando a encontra fechada, ele pula a janela. Mas o amor é raro e esquece do começar. Ele acontece. Sem que ninguém saiba dizer quando ou definir por que, o amor apenas existe. E quem ama não precisa entender, nem vai. Amará e pronto.
Quem muito quer explicar perderá o tempo de amar. E vai gastar latim à toa, o amor fala a língua dos loucos.O amor não é procurar a metade da laranja ou a tampa da panela. Não é encontrar na carta de vinhos o que mais combina com o prato principal. É temperar junto. Amor não vem pronto, mas pode ser instantâneo, inexplicável, fatal. Amor não tem motivo, ignora os porquês e não vem quando a gente chama.Ando discordando de um montão de gente em matéria de amor. Um amigo citou Goethe “o verdadeiro amor é aquele que permanece sempre, se a ele damos tudo ou se lhe recusamos tudo”. Torci o nariz pra ele. Penso diferente, o verdadeiro amor não precisa permanecer independente de tudo. O amor é faminto, é fogueira que precisa de lenha. Pode ter muitas mortes, como nós temos, pode ir e vir centenas de vezes, pode ficar porque quer ou porque não lhe deixam partir. O amor é imprevisível, mas não é submisso. É decidido. Amor verdadeiro é o que tem jogo de cintura, que sabe ser camaleão, que muda, transforma, não implora, pede com os olhos. Lê o braile da pele. Também não concordo com Leonardo da Vinci dizendo “o amor é filho da compreensão, o amor é tanto mais veemente, quanto mais a compreensão é exata”. O amor passa longe da compreensão. O amor não nasce dela e nem de ninguém, porque nao nasce.Podemos saber o dia do primeiro beijo, o dia que começou o namoro, o dia do casamento. Nunca saberemos o dia que começou o amor, quando ele aconteceu. O amor esquece de começar. Ele acontece. Ele surge. Amor não tem marco, amor marca. Não se define porque amor é todo o resto.O meu amor não é tranquilo. Posso discordar do Cazuza? Não quero a sorte de um amor tranquilo com sabor de fruta mordida. Amor tranquilo não é sorte, é azar. Não amo para não fazer barulho, não amo para ficar tranquila e não incomodar. Amo para incomodar e muito, mais que o normal. Amo para deixar furtarem meu sono, meu chão, minha comida, minhas palavras. Amo para justificar a intranquilidade do coração. Amo pela vontade de ser insatisfeita, pelo desejo de descobertas infinitas. Amar é conhecer alguém tão bem que sempre se possa perguntar algo. A resposta é o de menos. Amor não é resposta. Amor é aposta. É proposta.Amo quando uso da mesma dedicação para eticar a toalha da mesa e os cílios. A toalha é o lençol das conversar. Os cílios são os convites para um abraço. Pisco como abano de leque. Amar é seduzir os segundos. É dedicação e cuidado. Amar é plantar a intimidade no canto da boca, regar com beijos para que brotem em sorrisos. Rir junto é tão íntimo quanto se despir.mo quando ajeito a gola da camisa e repito os avisos de sempre. Recomendo cuidado. Amo o descuido, a porta aberta, a música esvaziando o copo de vinho. Amo quando abro os olhos como cortina. Amo quando conseguem me parar, quando roubam as palavras de dentro da minha boca. Quando suspiro. Quando fecho o olho para uma cena invadir a mente.Amo o beijo antes de acontecer. A espera na janela. Amo os nãos, as tentativas de me parar, a inteligência em respeitar os pequenos desaforos, se atirar no sofá para rir da rotina no fim do dia.Amor é surpresa. É forte e inusitado. Amor é decorar os passos do umbigo até a nuca. É jurar em falso, mandar embora, abrir a porta e esperar que volte. Amor é o que vem depois. É o que se diz sem querer.Amar é carregar nos bolsos a intranquilidade.
Amar é fazer pintura com o dedo. Contornar o rosto para lembrar, esquecer e lembrar de novo. Amar é não ficar, é ir e vir diversas vezes por caminhos diferentes. A fidelidade do amor está no destino.
O amor carrega uma etiqueta: inflamável, manuseie sem cuidado. E assim, posto que é chama... Não discordo do poetinha, que seja eterno enquanto dure.

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